amor em paz

me lembrei hoje de quando uma professora mandou escolhermos um filme do almodóvar qualquer pra uma redação e eu e meu grupo escolhemos “fale com ela”. lembrei também que foi lá pelos 17 anos, quando eu não conseguia não dormir em qualquer lugar que estivesse e não foi diferente daquela vez. lembrei que levantei na cena em que o homenzinho passeia dentro da mulher, pensei “que porra é essa” e voltei a dormir. lembrei que no dia seguinte eu só dizia que o filme era muito ruim e todo mundo concordava. lembrei que apesar disso, um trabalho precisava ser feito cedo ou tarde e  acabamos assistindo de novo ao bendito. lembrei então de uma toureira, lydia, que seria capaz de se deixar atingir pelo touro pra chamar atenção do homem que amava.  e mais do que tudo, lembrei que era a única acordada durante o diálogo de lydia e marco no qual se baseou minha redação:

“- todavía la querias?
– si. por isso lloraba cuando veía algo que me emocionaba. porque no podia compartirlo con ella. no hay nada peor que separarte de alguien a quien quieres todavía.

a lembrança dessa cena me veio justo hoje, quando as lágrimas me faltaram. hoje cedo apertei os olhos pra soltar a angústia acumulada e ao invés dela saíram memórias… em comum, todas tinham essa sensação de ser a única acordada pra entender a beleza daqueles segundos. a sensação de que a explicação depois nunca faria jus à percepção que só se obtém quando se sente alguma coisa. eu pude contar na redação como me senti, mas jamais estaria compartilhando de fato, com ninguém. no fundo no fundo, eu sou aquela menina de 17 anos assistindo uma coisa dolorida e linda pela primeira vez, enquanto as pessoas que ela amava dormiam. quando me dei conta disso, finalmente consegui chorar.

“¿Esto significa que aún hay esperanza? – No, insisto, científicamente no, pero si usted lo cree así yo no soy quién para quitársela.”

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