vamos por partes

na primeira parte, você aprende a usar o vaso sanitário sozinho antes de definir qualquer coisa viva. na segunda parte você apenas não define um gênero que não é o seu.

que os avisos de exigência de maioridade para acessar as redes sociais seriam ignorados, todo mundo já sabia. mas aí um homem encontra uma mulher e coloca a sementinha do machismo dentro dela e nasce um machisitinha com bochechas reluzentes. quinze anos depois, ele tá lá postando imagens machistas.

acontece que eu cansei. é claro que como tudo na vida, isso não veio de graça. foi preciso um namorado misógino, um pai machista, uma profissão “tipicamente masculina” e muita cabeçada na parede. eu tive mil e um motivos pra todas essas coisas acontecerem mas aí fui abstraindo cada vez mais e sobrou apenas uma palavra: preconceito. e no início pareceu simples, porque agora eu tinha uma única questão a combater.

eu pareço repetitiva de tanto explicar que essa ou aquela pessoa não se encaixam mais na minha vida porque são misóginas. que quando um ser humano mostra uma opinião equivocada em relação às mulheres, quando ele se mostra taxativo quanto às “coisas de mulher”, eu não consigo ver nenhuma diferença do hitler que mandou queimar judeus ou do malan promovendo o apartheid. e o mais irônico é que por isso, eu é que recebi a alcunha de nazista. sim, porque o nazista é o intolerante, o que leva seu ódio até as últimas consequências, o que limpa o mundo daquilo que considera a escória. e quem bate em homossexual não é intolerante, quem acha que mulher que usa minisaia merece ser estuprada não está levando nada às últimas consequências e abafar os movimentos de quem vai contra essa corrente não é querer livrar o mundo de ninguém. mas aparentemente ninguém cansou de escutar. me parece que um pouco mais do que isso, ninguém sequer prestou atenção.

eu fico me perguntando como é que alguém quer ser levado a sério na marcha contra a corrupção, como é que alguém quer ter seus direitos atendidos quando faz greve, se na primeira oportunidade age tão erroneamente quando aqueles que critica nesses movimentos. se você grita tão alto mas tão alto pra falar com alguém, é natural que aos poucos os outros ao redor comecem a achá-lo irritante o suficiente pra ignorar o que você diz. principalmente quando você não sabe nada sobre o que tá dizendo. quantas vezes você saiu do trabalho depois das 22h e apesar de ter ônibus circulando você pagou um táxi pra voltar pra casa por medo? quantas vezes você perdeu uma promoção porque ‘tavam precisando de alguém “que entrasse com o pé na porta” e seu sexo não é visto como agressivo o suficiente? quantas vezes você usou um biquíni pequeno demais pra alguém direito, grande demais se você quiser arrumar um casamento? quantas vezes seu cabelo foi modificado, seu estilo podado, o tom da sua voz questionado, a forma como você senta criticada, sua auto-estima derrubada, seu choro ridicularizado, seu corpo avaliado, seu caráter ignorado? quando você responde zero para uma única questão dessas, você perde o direito de compartilhar uma imagem dessas. você simplesmente não tem o direito de dizer quem eu sou.

se eu fosse explicar com maçãs, digamos que quando todas as maçãs vermelhas se acham mais suculentas do que uma maçã verde, você consegue entender porque a verde não quer ficar no mesmo cesto que elas, porque o que as maçãs vermelhas fazem é crime. pois bem. e quando você me joga no lixo por eu ter nascido sem semente é o quê?

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