TGIF

Deus disse que devíamos descansar no sétimo dia. Então aprendemos a comemorar a chegada desse dia. Festejamos antes, durante e depois. Mas o capitalismo determinou pra quem valia essa fala. E então houve esse corte social: daqui pra lá descansa, dai pra cá vai trabalhar no sábado sim porque quem ta descansando quer comer uma comida bacana, comprar uma roupa bonita, receber suas encomendas e vocês é que vão proporcionar isso, beleza?

Então beleza. Eu, por sorte ou azar estava mais pra lá do que pra cá e acabei ficando no segundo grupo. Mas como sempre distraída, possivelmente isso se deu por acidente. Hoje, um sábado, voltei pra casa no exato momento em que essa divisão se fazia evidente. Entregadores, manobrando um caminhão em condições sofríveis, tentavam sair do labirinto de carnes de financiamento em 60 meses – um estacionamento qualquer num bairro classe media, no caso. Mas a classe media tava ansiosa pra comer uma comida bacana, mostrar a roupa bonita, ou qualquer outra coisa dessas muito relevantes e que não podem ser adiadas. O vai-e-vem do motorista, sendo cercado por arrogância, pela ilusão de poder, pela dita superioridade economica, pelas buzinas e impaciencias, as tentativas em vão de fugir do espaço que não lhe pertencia… E esses carros, cada vez mais compactos que carregam egoísmo cada vez mais espaçosos, incapazes de lidar com segundos de espera, oprimiam. Oprimiam e encurralavam, não somente um caminhão, mas uma classe inteira. “Vê? Você não sabe o que fazer. Seu lugar não é aqui”, eles diziam. A classe que só é vista quando incomoda. Quando suja nossos espaços, quando ocupa nossas ruas e quando desnuda nossa hipocrisia.

Eu não descanso aos sábados. Eu não descanso. Eu me canso.

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